PAIS E IRMÃOS

Ser cuidador...

Ser cuidador é inato, quando somos pequenos começamos a praticar nas bonecas, nos irmãos, nos animais de estimação e vamo-nos preparando para a vida de várias formas!
Nunca nos preparamos verdadeiramente para que um dia a nossa vida pare e tenhamos aquela reviravolta que nos impele para cuidarmos de alguém que fica à mercê de um cuidador.
Pensámos sempre que as histórias que vamos ouvindo só acontecem aos outros, mas e quando os outros somos nós? Quando temos que deixar uma vida que criamos para nós com as rotinas já definidas e os projetos estabelecidos e temos que alterar tudo e passamos a ser SÓ cuidadores?
Primeiro nem pensamos muito nisso, estamos em modo automático e só pensamos que naquele momento é aqui que somos necessários e é urgente ajudar a salvar aquela vida que tanto necessita de nós e de quem tanto gostamos.
Com o passar do tempo, apesar de estarmos sempre ocupados? Sentimos falta da antiga rotina, sentimos falta de termos tempo para nós e de nos cuidarmos, mas a azáfama é tanta que esses pensamentos rapidamente são substituídos pelas atuais tarefas de cuidar!
Sim, porque cuidar implica uma grande quantidade de tarefas quer físicas quer mentais que nos absorvem de tal forma que não nos deixam grande tempo de reflexão.
Quando conseguimos que as rotinas se instalem na nova vida é quando começamos a refletir e a pensar na nova forma de viver que adquirimos não por opção, mas pelas circunstâncias que nos colocaram neste novo caminho.
Ser cuidador não se escolhe, somos escolhidos e a forma como o aceitamos e reagirmos fará toda a diferença.
E pronto, agora és cuidador, como vai ser a tua nova vida?
Diferente da antiga, ou talvez nem tanto!
Terás dias bons com vitórias, alegrias e gargalhadas, e terás dias tristes, frustrados e com muita vontade de chorar! Encontrarás um novo sentido para a vida, que te fará sorrir, mas que por vezes também te fará duvidar e recear! Terás dias que trocas os vestidos e os saltos pelos fatos de treino e sapatilhas! Terás dias que um café e uma conversa com amigos farão toda a diferença no teu dia!
Terás dias que moves montanhas para que a vida do teu cuidando seja mais simples, mais feliz e com mais sentido para ele.
Descobrirás que a sociedade não se compadece com a diferença e que afinal tudo aquilo que ouves e que se apregoa nas escolas e noutros locais é mais próximo da utopia, e que afinal ser diferente dá muito trabalho e requer muita luta para que a empatia e a compaixão sejam uma constante na vida do teu cuidando.
Terás vontade e otimismo para que as coisas aconteçam e terás receios e dúvidas sobre as escolhas!
A vida continuará sempre a ser uma dualidade e manter-te no equilíbrio será a melhor forma de fazer acontecer a vida!
No meu caso específico, gostava da anterior vida, mas também adoro a vida atual, que me levou a trilhar novos caminhos numa direção oposta e são ambas igualmente boas.
A aceitação e adaptação é sempre o mais difícil, é um longo caminho tortuoso que obrigatoriamente temos que fazer para que a nova vida seja vivida em pleno e verdadeiramente feliz.
Como em tudo na vida temos perdas, mas também temos muitos ganhos, e a verdadeira essência está na forma como olhas e reages ao que te acontece. Se aprenderes a valorizar mais os ganhos e a fugires do papel de vítima garanto que serás mais feliz e o caminho será menos penoso!
Acredita que poderás e deverás ter ajuda de um terapeuta para fazeres todo esse trabalho interior, mas o maior trabalho é teu, com força, fé, amor e vontade conseguirás mudar tanto o mindset como a forma como olharás para a vida será com muita gratidão.
Gratidão pelo que aprendeste, pelo que superaste e pela forma como cresceste.
A gratidão é o ingrediente principal em toda esta caminhada, e trabalhares a tua gratidão diariamente fará com que o caminho que no início parecia ser tão difícil seja transformado num caminho possível cheio de amor!
Ser cuidador é transformar a vida de quem cuidas diariamente, mas mais ainda é criares um sentido e transformares a tua própria vida em SER!
Temos uma vida para ser vivida plenamente no modo SER em vez da antiga vida que era vivida no modo TER, e este é o maior dos ganhos!

Margarida, mãe do Ricardo

Ter um irmão com cancro é quase como se eu tivesse adoecido com ele (...) Continuar a crescer sem ele [perto] é um processo doloroso e quando algo não corre bem não ter o meu maior apoio e um ombro para chorar é algo que me marcou e vai para sempre marcar-me.
Carolina, irmã do Rodrigo

A ti enfermeira

A ti, enfermeira
Gente que cuida de gente
Amada, criticada
Desejada, tolerada
Esquecida no tempo da bonança
Querida no tempo do sofrimento.

A ti enfermeira
Que suportas a dor
No olhar de um donete
Que ris, quando queres chorar
Que acalmas o teu coração
Quando te apetece gritar
Que abafas a mágoa de ser gente.

A ti enfermeira que vagueias
Velando na calada da noite
Aqueles que confiam em ti
Em noites infinitas, sofridas,
Lutando contra a morte e o tempo.

A ti enfermeira que mitigas
A alma e o corpo de quem geme
As dores de ser simples mortal.

A ti enfermeira que enalteces
O sentido da vida,
A dignidade Humana
Esquecendo também que és gente.

Hugo, Barnabé

“Não fomos nós que procurámos a Acreditar, a Acreditar é que veio ter connosco.”

No meio de uma autêntica tempestade à procura de encontrar um fio orientador, à procura de respostas para as angústias vividas, para nós acrescidas pelo facto de não estarmos no nosso meio, fomos acolhidos e aqui encontrámos um porto de abrigo. A nossa casa, a outra casa. Não fomos nós que procurámos a Acreditar, mas sim a Acreditar é que veio ter connosco.

A Acreditar permitiu resposta a um dos conceitos basilares de uma família: a casa, o lar.
Aqui encontramos abrigo, espaço para convívio, espaço para nós, espaço para nos concentrarmos no essencial.
Esta Casa marcou-nos profundamente. Aqui chorámos, rimos, fomos felizes, lamentámos, compartilhámos, demos e deram-nos a mão, recebemos e demos carinho.
Recebemos amigos e ganhámos amigos.
Foi isto afinal o que mais nos confortou enquanto família, apesar da profunda angústia da separação, saber e sentir que aqui mãe e filha estavam seguras.
A segurança e elo bem visíveis entre a Acreditar e o IPO são, sem sombra de dúvida, um dos factores chave para que conseguíssemos caminhar e juntos trazermos a nossa filha até aqui.

Pais da Sofia 

“… há pessoas que fazem coisas impressionáveis…”

Acreditar que há pessoas que fazem coisas impressionáveis, que com pequenos gestos conseguem fazê-los ser tão grandes.
Dar uma palavra amiga, trazer um momento de consolo nem toda a gente consegue, mas pessoas como as pessoas da Acreditar fazem-no melhor do que ninguém, tem a força que mais ninguém tem para apoiar.
Mesmo nos momentos mais tristes e de mais sofrimento conseguiram pôr na Letícia e nas pessoas que estavam à volta dela um sorriso no rosto, por isso tudo agradecemos.
Obrigado pela coragem que nos transmitiram, pelas palavras, pelos momentos, vamos continuar a Acreditar.

Pais da Letícia

“… também há tempo para brincar…”